Conhecendo e entendendo SbN

Contexto – desafios ambientais, sociais e econômicos

A pressão aos recursos da natureza e a degradação do ambiente sempre aconteceram ao longo da história, mas numa velocidade que permitia a recomposição natural. Em contraste, estudos relativos à saúde dos ecossistemas indicam que o processo de degradação ambiental nos últimos 50 anos foi o mais rápido quando comparado a qualquer outro período da história [2] [3].

Atualmente, os padrões de consumo, o crescimento populacional e determinadas estratégias de desenvolvimento e ocupação de territórios continuam avançando rapidamente. Como consequência, alargam-se os problemas e os desafios, sobretudo nos centros urbanos.

A configuração espacial da maioria das cidades brasileiras é resultado de estratégias, processos e projetos que consideravam de maneira inadequada o desenho natural dos territórios e as características das bacias hidrográficas e de seus processos naturais. Por consequência, as cidades – que, entre diversos aspectos, sofreram também um rápido crescimento populacional – têm dificuldades de conjugar a ocupação adequada do território com as necessidades de conservação ambiental.

Obras de retificação, canalização e tamponamento dos corpos hídricos, por exemplo, diminuem substancialmente a eficiência do solo e dos ambientes naturais em prover serviços ecossistêmicos[4] [5] [6].

Vale observar que parte significativa da ocupação é regular do ponto de vista urbanístico – não se tratando, portanto, apenas de ocupações informais (favelas) à beira de cursos d’água. O problema é, antes de tudo, resultado de um modelo de desenvolvimento questionável e da falta de integração entre políticas setoriais [4] [5] [6].

Como resultado, a população convive com altos índices de vulnerabilidade ambiental e social e com a desigualdade socioeconômica em cidades insustentáveis, que oferecem baixa qualidade de vida e têm capacidade limitada de resiliência, o que implica em altos custos para o poder público e, consequentemente, para os habitantes.

Esta situação de suscetibilidade é agravada pelos efeitos dos eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes. A esfera local é a primeira a sentir as consequências – de forma desigual e mais severa para a população vulnerável –, acarretando ainda mais prejuízos econômicos para ações de mitigação e adaptação [7], além de irreparáveis perdas de vidas humanas.

 A edição de 2020 do relatório do Fórum Econômico Mundial (The Global Risks Report), coloca fatores ambientais – como a mudança do clima e a perda de biodiversidade – no topo da lista dos principais riscos à humanidade e à economia global. A conclusão desta edição – que reuniu líderes políticos, empresariais, acadêmicos e jovens do mundo todo em Davos, na Suíça – indica que bancos centrais em todo o mundo começam a ver o clima como um risco sistêmico para os mercados de capitais. O documento conclui também que a complexidade do sistema climático implica em impactos ainda desconhecidos, fazendo com que a crise do clima seja considerada a maior ameaça à humanidade nos próximos dez anos.

Em todo o mundo já são observadas diversas consequências das mudanças climáticas. No Brasil, destacam-se as variações bruscas de temperatura, as tempestades e os ventos fortes, a escassez de água e os períodos de seca extrema e de precipitações intensas, seguidas de deslizamentos, inundações e alagamentos.

Tais alterações aumentam a incerteza sobre o futuro, pois, à medida que o clima muda, também muda a hidrologia, ficam menos confiáveis as projeções sobre as vazões nominais e tornam-se desatualizados os dados históricos sobre a disponibilidade hídrica, por exemplo [8] [9].

Portanto, além de ações de mitigação, é necessário atenção às medidas de adaptação aos efeitos da mudança do clima.

Serviços prestados pela natureza

Diante desse contexto, é importante o papel dos serviços providos pelos ecossistemas conservados, bem como a sua biodiversidade.

Áreas naturais inseridas ou próximas a grandes centros urbanos, desde que bem manejadas, contribuem para o aumento da resiliência das cidades, pois têm grande potencial de adaptação aos eventos climáticos extremos. Esta é a essência do conceito de Adaptação baseada em Ecossistemas – AbE.

Ou seja, promover a conservação dos ecossistemas naturais é uma forma inteligente de gerir o espaço público, já que fornece benefícios importantes para o bem-estar humano e minimiza riscos associados aos processos econômicos.

Embora a ideia de “prestação de serviços” seja um tanto antropocêntrica, consideramos que seja uma maneira eficaz para comunicar à sociedade sobre os benefícios da infraestrutura verde a favor dos cidadãos.

A Avaliação Ecossistêmica do Milênio da Organização das Nações Unidas – ONU classifica os serviços ecossistêmicos como os benefícios que as pessoas obtêm da natureza, direta ou indiretamente, por meio dos ecossistemas a fim de sustentar a vida no planeta. Já os serviços ambientais são as atividades humanas que favorecem a conservação ou melhoria dos serviços ecossistêmicos [3].

Tratar da reabilitação das cidades requer uma visão ampla, de modo que elas se tornem mais eficientes em aliar a conservação ambiental, o bem-estar das pessoas e a manutenção dos processos econômicos. Esse debate tem se tornado cada vez mais urgente e tomado cada vez mais a atenção no mundo inteiro e evidenciando as Soluções baseadas na Natureza.

A mudança para uma nova relação com a natureza em nossa sociedade é imprescindível para a manutenção da vida no presente e no futuro. A resposta dependerá, ao menos em parte, da habilidade de passar a trabalhar com a natureza, de forma antecipada e preventiva a futuros problemas críticos, em vez de atuar contra ela [14].